Assim, de repente, não sei a quem escrever. Como se, de repente, não houvesse destinatário; como se as coisas supérfluas fossem mais importantes do que as essenciais. Parece-me, hoje, que o meu mundo é o daqueles que os velhinhos diziam. O mundo do não presta. O mundo do sem sentido. Mas eu sinto-me plenamente viva e, porque vivo, recordo.
Talvez o karma seja o que nós interpretamos para nós como o “algum sentido nisto”. Talvez o karma exista acima das definições religiosas, seja uma espécie de definição do barro. O meu molde pode estar ligado ao entendimento da morte ou à aceitação da solidão.
Não gosto muito de pôr as coisas em termos pessoais. Assim sendo, parece-me que faço o canto do choro; o muro das lágrimas. Quando nos centramos em nós, damos muita importância a nós. Ficamos as vítimas. Ficamos acompanhados de espetadores que observam o quanto miseráveis somos ou nos queremos fazer parecer, pedindo dó e piedade. E não é isso que quero. Só quero um destinatário. Alguém que me ouça, calado. Ou que me leia, através das linhas, ou da minha cara. A minha cor mais amarela, do cansaço, farta de dizer à vida que não me apresente mais a morte ou a esterilidade.
Morte e tio dionísio.
Morte e bisavó Ludovina.
Morte e primo Manuel.
Morte e pai.
Morte e primo José.
Morte e primo António.
Morte e tio José.
Morte e tio Manuel.
Morte e avô Ernesto.
Morte e avó Armanda.
Morte e avô Artur.
Morte e mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe e mãe.
Ouves-me? Mesmo que sim, não me interessa. Não me respondes.
Estou sozinha.
Espero que me ouças.
Não vou comentar o teu post, mas sim dar-te as boas vindas a esta bloguosfera.
ResponderEliminarSei que escreves bem :)
Espero que te divirtas por cá. Isto é "quase" sempre muito divertido.
Cadês
Almofariza
Devorei o teu primeiro texto e fiquei deliciada com a tua escrita! Vou ficar à espera de mais textos...
ResponderEliminarParabéns!
Jinhux!
Isabel Moutinho
Que beleza saber mostrar, através da escrita, o que nos vai na alma!
ResponderEliminarBeijinho e cá estarei a beber no teu blog.
Ana Emília
Como vês querida prima, não estás só. Tens aqueles que te leem. Aqueles que te observam e te admiram. Aqueles que precisam de ti. Aqueles a quem tu já ajudaste e foste uma tábua de salvação. É difícil perder entes queridos. É preciso juntar os que ainda cá estão e fazer de cada dia o melhor dia:)Um beijo e parabéns pelo blog!
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