Às vezes não se sabe. Nunca se
sabe muito. E sabemos tão pouco acerca dos outros. E pouco acerca de nós. Por vezes,
pensa-se que se sabe o que os outros precisam. Achamos que a felicidade deles é
a nossa, por sermos felizes com eles. Por vezes, também, a nossa felicidade não
existe, ou existe, mas fora daquilo que nos dava felicidade. E procuramos estar
bem. Quando não estamos bem com os outros, procuramos estar bem, na mesma. Nem que
seja connosco.
Por vezes, sinto-me desencontrada
dos outros. Gosto de estar só. Gosto muito de silêncio. Por isso, gosto tanto
de ler. Quando leio, estou só, no silêncio. Só com os meus pensamentos. Só com
as minhas emoções. Gosto de ordem. Adoro a ordem. Preciso dela para me
organizar por dentro. Gosto tanto como de uma folha em branco. A folha em
branco permite organizar-me por dentro, pôr em ordem os meus pensamentos e as
minhas emoções.
Por vezes, gostava que os outros
fossem como eu e que me respondessem numa folha em branco para organizarem os
seus pensamentos e as suas emoções. Por vezes, os outros não sabem que estão
infelizes. Julgam-se felizes e pensam que encontram a felicidade fora do que
realmente lhes devia dar felicidade. Também já passei por isso. Todos passamos.
Já menti. Todos mentimos. Já menti a mim própria e aos outros e isso não traz
felicidade. Só desgraça.
Se averiguarmos bem, nunca
mentimos a nós próprios. Fingimos que o fazemos, pois sabemos sempre onde está
a verdade, onde está o certo e o errado. Muitas vezes, queremos fingir que não
sabemos. Justificamo-nos perante os outros para nos defendermos e ouvimos a voz
de nós próprios a dizer que está errado; que o certo é o certo e o errado é o
errado. Justificamo-nos com a alegoria das circunstâncias e da natureza humana.
São fases.
Amadurecemos com a idade, mas,
por vezes, as emoções e os pensamentos de algumas pessoas não amadurecem. Colam-se
ao passado e querem ser o que já não são, negando o tempo. Têm medo de morrer,
sobretudo. Às vezes penso que estou pronta para partir para o outro mundo, mas
também tenho medo: não do desconhecido, mas de não viver; de perder a
vida ou a felicidade que pensamos que ainda ela nos pode dar. Só Deus sabe
quando nos vamos embora.
Contudo, louvo a vida e acho que
ela é extraordinária. Mas não tem de ser extraordinária na loucura, ou na
força. Ela é extraordinária na sua Ordem; na sabedoria subtil que cada
amanhecer traz; na evolução que cada ser pode experimentar; nas lições que nos
fazem crescer; na libertação dos sentidos; no silêncio lunar; no requinte da
arte; no prazer da música. A tempo. Manhã, tarde, noite. E uma cadência
interior que nos faz saber. Perceber. Estar em consciência.
O riso e a gargalhada trazem do
fundo de nós uma leveza, um corte na efemeridade. Por isso gostamos tanto de
ser felizes. Eu gosto. Da minha felicidade.